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Alterações de linguagem infantil: princípios para o diagnóstico (2004)

  • Autor:
  • Autor USP: HAGE, SIMONE ROCHA DE VASCONCELLOS - FOB
  • Unidade: FOB
  • Assunto: LINGUAGEM INFANTIL
  • Language: Português
  • Abstract: Alterações de linguagem em crianças pequenas, em geral, podem ser determinados comparando-se o desenvolvimento de linguagem das mesmas com outras da mesma idade. Espera-se que as crianças no seu primeiro ano de vida utilizem formas iniciais de comunicação como gestos e vocalizações dirigidas ao outro com alguma funcionalidade. Por volta do segundo ano de vida, tem-se a expectativa de que as crianças iniciem suas primeiras unidades lingüísticas. Quando tais comportamentos não aparecem, há motivos justos de preocupação. Transtornos no desenvolvimento da linguagem podem, muitas vezes, ser o primeiro sinal de transtornos mais globais do desenvolvimento como o Autismo, a Deficiência Auditiva ou Mental. Ou ainda, esse mesmo atraso pode ser o indício da presença de uma incapacidade desenvolvimental específica para a linguagem. Talvez pareça óbvio afirmar que a chave de um diagnóstico preciso nas alterações da linguagem infantil, como as citadas acima, esteja na qualidade da entrevista e da avaliação de linguagem. Contudo, elencar critérios que garantam essa qualidade, não é tão simples assim. Qual o tipo de entrevista e quais os aspectos que o entrevistador deve enfatizar a fim de que a família possa relatar de forma o mais fidedigna possível o desenvolvimento da criança (incluindo todas as suas áreas, a saber, cognitivo, motor, físico, comunicativo) e ainda, as formas de interlocução das quais tem participado? Quais os procedimentos em avaliação de linguagem e oscritérios de análise que, além de descreverem as alterações possam também explicar a alteração apresentada? Tratar de avaliação de linguagem é sempre um desafio, na medida que os testes e protocolos que se propõem a isso assumem teorias e modelos diferentes sobre linguagem e sobre desenvolvimento de linguagem. Além disso, é difícil criar procedimentos de avaliação de linguagem que possam ser utilizados com crianças de diferentes níveis sociais e de uma ) ampla faixa etária. Apesar da sensação de utopia, a tarefa de criar testes e protocolos não deve ser abandonada, pelo contrário. O olhar clínico sustentado numa visão sociopsicolingüística supera as possíveis limitações de quaisquer procedimentos. Quando se trata da avaliação de linguagem com oralidade, praticamente há dois procedimentos distintos: amostra de linguagem espontânea e/ou semidirigida, tendo como parâmetro para análise o desenvolvimento normal da linguagem, e testes, tendo como parâmetro tabelas com confiabilidade estatística, também embasadas na normalidade. Em ambos, o objetivo é se obter informações sobre como está a organização dos diferentes níveis lingüísticos, a saber, fonológico, morfossintático, semântico-lexical e pragmático, envolvendo as habilidades de compreensão lingüística. A análise de uma amostra de linguagem espontânea implica em registro por meio de fita de áudio, vídeo ou mesmo manuscrito da referida amostra e posterior análise. A amostra envolve tambémprocedimentos semidirigidos como nomeação de elementos de figuras ou brinquedos; solicitação explícita para narrar, dar informações, explicar; perguntas com termos previamente selecionados, como os advérbios de tempo, espaço, pronomes. Esses procedimentos são úteis para analisar aspectos específicos da linguagem, cuja possibilidade de aparecimento em contextos naturais pode ser restrita. A análise por amostra é altamente reveladora do funcionamento da linguagem infantil. Já os testes são estruturados para atender a critérios estatísticos de confiabilidade e validade. Eles permitem realizar comparações entre as pontuações de uma escala elaborada a partir de dados obtidos numa população normal e as pontuações obtidas pelo sujeito examinado. Isso, sem dúvida, complementa o olhar clínico. A avaliação de linguagem, tanto na forma de amostra ou teste, além de responder a questão sobre quais os níveis de linguagem que ) estão afetados e, é claro, quais estão preservados, deve também buscar informações sobre os múltiplos processos psicolingüísticos envolvidos com a organização deste níveis. Em linhas bem gerais, as dificuldades fonológicas, morfossintáticas, lexicais e de compreensão têm sido atribuídas à limitações do processamento temporal, de memória de curto prazo e de representação fonológica. Assim, a avaliação de linguagem deve incluir protocolos e testes que possam investigar a memória de curto prazo, as habilidades para discriminação auditiva verbal e paraconsciência metalingüística, especificamente a fonológica. Já quando se trata da avaliação de linguagem sem oralidade, a observação comportamental é o procedimento indicado. A observação comportamental é um procedimento em que se analisa o comportamento geral da criança, incluindo os comunicativos. Em geral, procura-se observar pelo que a criança se interessa, o que pega, como manipula os objetos, para onde olha, se presta atenção à fala ou atividade do outro. Apesar de ser a criança o objetivo da observação, o foco de análise na avaliação não deve limitar-se aos comportamentos dela, mas abranger a interação da qual emergiram. A forma como o interlocutor (em geral, o fonoaudiólogo) age, reage nas iterações é fundamental para o entendimento das ações comunicativas da criança. O estabelecimento de critérios de análise para observação comportamental são imprescindíveis para não se cair numa mera descrição de ações. No que se refere à atividade comunicativa, pode-se observar a freqüência de comportamentos comunicativos intencionais, a funcionalidade dos mesmos, o grau de participação em atividade dialógica, os meios de comunicação, o nível de compreensão, a postura comunicativa dos pais. No que se refere à atividade lúdica, a forma de manipulação dos objetos e o tipo e a freqüência de ações sobre os mesmos são critérios de análise freqüentemente ) utilizados neste tipo de situação. As escalas de desenvolvimento são um outro procedimento disponível aofonoaudiólogo no diagnóstico diferencial de alterações de linguagem infantil, em particular na diferenciação entre alterações de linguagem específicas e de alterações como parte de quadros mais abrangentes do desenvolvimento. Somente uma perspectiva holística sobre a criança durante o processo de entrevista e de avaliação inicial parece ser aquela que tem contribuído mais efetivamente no diagnóstico das alterações de linguagem infantil. Essa perspesctiva tem exigido do fonoaudiológo domínio não só de conhecimentos específicos do desenvolvimento e investigação das manifestações comunicativas e lingüísticas, mas do desenvolvimento e avaliação de áreas correlatas. Da mesma forma, tem exigido que ele saiba combinar diferentes procedimentos de avaliação que contribuam para o entendimento das alterações encontradas e direcionem o processo terapêutico
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  • Conference titles: Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia

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    • ABNT

      HAGE, Simone Rocha de Vasconcellos. Alterações de linguagem infantil: princípios para o diagnóstico. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. São Paulo: SBFa. . Acesso em: 04 dez. 2025. , 2004
    • APA

      Hage, S. R. de V. (2004). Alterações de linguagem infantil: princípios para o diagnóstico. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. São Paulo: SBFa.
    • NLM

      Hage SR de V. Alterações de linguagem infantil: princípios para o diagnóstico. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. 2004 ; 9[citado 2025 dez. 04 ]
    • Vancouver

      Hage SR de V. Alterações de linguagem infantil: princípios para o diagnóstico. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. 2004 ; 9[citado 2025 dez. 04 ]


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