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Trajetórias de vida de pessoas com obesidade residentes em São Paulo: vulnerabilidades e marcadores sociais da diferença (2021)

  • Authors:
  • Autor USP: SOARES, RAFAEL MARQUES - FM
  • Unidade: FM
  • Sigla do Departamento: MPR
  • Subjects: OBESIDADE; VULNERABILIDADE; DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE; PESQUISA QUALITATIVA
  • Keywords: Body dissatisfaction; Determinantes sociais da saúde; Estigma social; Health vulnerability; Insatisfação corporal; Obesidade; Obesity; Pesquisa qualitativa; Qualitative research; Social determinants of health; Social stigma; vulnerabilidade em saúde
  • Language: Português
  • Abstract: Introdução: A obesidade tem se tornado há algumas décadas foco de muitos estudos e atenção de setores e profissionais da área da saúde, em grande parte dado o crescimento acentuado de seus números na população. Observa-se, igualmente, o aumento das mais diversas abordagens para seu tratamento. Parte da falha destas abordagens se dá pela simplificação biomédica da obesidade. Observa-se que a maioria dos tratamentos propostos tendem a não ultrapassar as barreiras dos contextos biológico, fisiológico e comportamental, desconsiderando os domínios pertencentes às condições de vida (classe social, gênero e ambiente). A dificuldade de compreensão que o ato de se alimentar não é somente biológico, mas é também fundamentado nos valores culturais e nas dinâmicas históricas e sociais, tem produzido o fenômeno da medicalização da obesidade. Não somos somente o que comemos, mas como comemos, com quem comemos e por que comemos. O dinamismo das relações sociais articula o estudo da alimentação ao campo das ciências humanas, o qual ganha espaço como objeto de análise, interpretação e compreensão das práticas, representações e tensões que envolvem o espaço social alimentar. Esta complexidade ganha cores diferentes quando compreendida pela perspectiva dos marcadores sociais da diferença, do estigma do peso e das opressões interseccionais, representadas em trajetórias de vida das pessoas com obesidade, muitas vezes pautada pelas discriminações de classe e gênero. Neste estudo, tais aspectossão considerados a partir da abordagem conceitual das vulnerabilidades individuais, coletivas, programáticas e contextuais em articulação aos marcadores sociais da diferença, particularmente gênero e classe social. Objetivos: Explorar, através de aspectos relacionados à perspectiva da vulnerabilidade e dos marcadores sociais da diferença (classe e gênero), o lugar da obesidade nas trajetórias de vida de pessoas que se auto percebem como gordos e obesos. Identificar e compreender, a partir da percepção de participantes auto identificados como pessoas com obesidade, os impactos e influências dos fatores socioambientais em sua relação com o corpo e comportamento alimentar. Apontar e discutir aspectos de análise da vulnerabilidade e dos marcadores sociais da diferença que possam contribuir para a superação das possíveis barreiras geradas pela interação do seu corpo com ambiente obesogênico. Metodologia: Estudo com abordagem qualitativa fundamentado pelos referenciais conceituais de vulnerabilidade, marcadores sociais da diferença, ambiente obesogênico e estigma. O material empírico contempla entrevistas semiestruturadas com 18 mulheres (de 19 a 66 anos) e 7 homens (de 31 a 57 anos) todos trabalhadoras e trabalhadores de um hospital privado da cidade de São Paulo e residentes da grande São Paulo. A produção dos dados empíricos ocorreu em 2019 utilizando da técnica de entrevistas semiestruturadas e análise narrativa. Resultados: Os resultados apontam que a importância daalimentação durante as trajetórias de vida é amplamente impactada por questões emocionais e circunstâncias; com o passar do tempo a qualidade do que e como se come diminui de forma importante. O impacto do ambiente obesogênico é relevante e foi atribuído pelo(a)s participantes à dificuldade de acesso e à escassez de alimentos innatura ou minimamente processados em seus trajetos diários e cercanias do local de trabalho, somado ao fácil acesso e diversidade de opções de alimentos ultraprocessados. A questão econômica também é percebida pelos participantes como um balizador do ganho de peso, observando-se uma percepção de que o \"comer saudável\" e o acesso a qualquer questão de prevenção custa muito caro. O custo associado à praticidade de acessar alimentos ultraprocessados, a exploração midiática dos mesmos e o dispêndio de tempo em deslocamentos ao trabalho somados a jornada de trabalho, também são apontados como dificultadores de uma maior atenção e dedicação ao que se come. O estigma e preconceito com o corpo gordo foi relatado por participantes homens e mulheres, contudo os homens demonstraram menos preocupações e limitações em suas vidas, mesmo em situações onde seu corpo, fora do padrão estético vigente, era exposto. Já as mulheres, com muitos mais relatos e reflexões sobre a relação com seus corpos, ressaltaram olhares (próprios e alheios), sentimentos, julgamentos e valores externos, que impactam diferentes momentos de suas trajetórias de vida. A ideia de que ocorpo gordo é sinônimo de fraqueza e ineficiência está internalizada pelo(a)s participantes. Mesmo que algumas limitações oriundas do peso sejam realmente sentidas, há consciência de que seu corpo não deveria ser questão de terceiros. A compreensão do despreparo de profissionais para lidar com a obesidade ou peso corporal impossibilita ao paciente o suporte necessário e acaba desmotivando o acompanhamento e faz recair exclusivamente sobre o indivíduo a culpa pelos problemas atribuídos ao seu corpo. O aspecto programático relativo à ausência de instalações desportivas gratuitas, espaços verdes ou parques, bem como o transporte públicos de amplo alcance e infraestrutura e políticas públicas também foram apontados como impulsionadores da vulnerabilidade a obesidade. Conclusão: O estudo possibilita ampliar a compreensão sobre a complexidade que envolve a obesidade, propondo uma reflexão sobre o tema através do referencial teórico da vulnerabilidade relacionada às dimensões como gênero e classe social. Os resultados são úteis para a ampliação do conhecimento sobre o fenômeno da obesidade, bem como para um melhor desenvolvimento de propostas e intervenções que sejam mais eficazes e menos centradas na culpabilização do indivíduo e nos aspectos biológicos da obesidade. Não desconsiderando a participação do indivíduo no seu processo de autocuidado, é preciso reconhecer a preeminência de questões como o ambiente, cultura, saúde emocional, condições, situações e estilos de vida, aquestão ambiental e o acesso aos direitos, como elementos que impactam na obesidade, tornam as pessoas vulneráveis e as induzem à adoção de comportamentos, modos e estilos de vida que favorecem sua instalação e perpetuação
  • Imprenta:
  • Data da defesa: 12.02.2021
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    • ABNT

      SOARES, Rafael Marques. Trajetórias de vida de pessoas com obesidade residentes em São Paulo: vulnerabilidades e marcadores sociais da diferença. 2021. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2021. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5137/tde-16082021-121645/. Acesso em: 06 nov. 2024.
    • APA

      Soares, R. M. (2021). Trajetórias de vida de pessoas com obesidade residentes em São Paulo: vulnerabilidades e marcadores sociais da diferença (Tese (Doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo. Recuperado de https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5137/tde-16082021-121645/
    • NLM

      Soares RM. Trajetórias de vida de pessoas com obesidade residentes em São Paulo: vulnerabilidades e marcadores sociais da diferença [Internet]. 2021 ;[citado 2024 nov. 06 ] Available from: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5137/tde-16082021-121645/
    • Vancouver

      Soares RM. Trajetórias de vida de pessoas com obesidade residentes em São Paulo: vulnerabilidades e marcadores sociais da diferença [Internet]. 2021 ;[citado 2024 nov. 06 ] Available from: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5137/tde-16082021-121645/

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