Mulheres negras e não negras vivendo com HIV/AIDS no estado de São Paulo: um estudo sobre suas vulnerabilidadades (2003)
- Authors:
- Autor USP: LOPES, FERNANDA - FSP
- Unidade: FSP
- Sigla do Departamento: HEP
- DOI: 10.11606/T.6.2003.tde-10102006-144443
- Subjects: SAÚDE DA MULHER; ASSISTÊNCIA À SAÚDE
- Language: Português
- Abstract: Objetivo. A vulnerabilidade individual é estabelecida num espaço de relações entre sujeitos, nesse sentido o estudo buscou compreender a vulnerabilidade de mulheres negras e não negras que vivem com HIV/AIDS à reinfecção e ao adoecimento, em três serviços públicos de referência para o tratamento de DST/AIDS do Estado de São Paulo. Métodos. A pesquisa foi realizada com 1.068 mulheres maiores de 18 anos (526 não negras e 542 negras), voluntárias, atendidas em três serviços públicos de referência para o tratamento de DST/AIDS do Estado de São Paulo, de setembro de 1999 a fevereiro de 2000. As mulheres souberam da pesquisa após contato com a equipe de recepção das instituições, na sala de espera, e aquelas que aceitaram participar assinaram o termo de consentimento pós-informado. O termo de consentimento e o protocolo de estudo foram aprovados pelos Comitês de Ética de cada uma das instituições participantes. As entrevistas realizaram-se em ambiente privado e foram conduzidas por profissionais do sexo feminino, de nível superior. O instrumento para coleta de dados foi um questionário semi-estruturado que possibilitava à entrevistada falar sobre suas experiências e impressões em diferentes momentos da vida, especialmente depois da revelação do diagnóstico de soropositividade para o HIV. Na análise estatística utilizou-se o teste qui-quadrado Pearson e intervalos de confiança de 95%. Para estudar a interação entre as variáveis utilizou-se o modelo loglinear CHAID (Chi-squared Automatic Interaction Detector). Os programas de análise estatística utilizados foram: EpiInfo versão 6.04, SPSS versão 8.0 and Answer Tree versão 3.0.Resultados. As condições de ordem social que contribuíram mais fortemente para a vulnerabilidade individual de mulheres negras foram: dificuldades de acesso à educação formal, condições de moradia e habitação menos favoráveis, baixo rendimento individual e familiar per capita, responsabilidade pelo cuidado de maior número de pessoas, dificuldade de acesso ao teste diagnóstico, dificuldade de acesso às informações sobre terapia anti-retroviral para o recém-nascido e sobre redução de danos no uso de drogas injetáveis, dificuldade em adotar comportamentos protetores tais como o uso de preservativo , menores possibilidades de acompanhamento realizado por outro médico que não o infectologista ou ginecologista, menores chances de atendimento nutricional, menos facilidade em obter outros remédios além do coquetel. Os fatores de ordem cognitiva que contribuíram para o aumento da vulnerabilidade das mulheres negras foram: baixa percepção de risco individual de infecção e a conseqüente falta de iniciativa em procurar um serviço de saúde que oferecesse o teste, dificuldade em entender o que os profissionais dizem, em esclarecer suas dúvidas ou falar sobre suas preocupações, dificuldades em entender a evolução de seus quadros clínicos. Os achados permitiram identificar que as mulheres negras estavam menos conscientes sobre o problema e sobre as formas de enfrentá-lo, encontrando, na maioria das situações, menores possibilidades de transformar suas condutas. Do ponto de vista subjetivo, a qualidade do aconselhamento anterior e posterior ao teste, a piora da vida sexual após o diagnóstico e a dificuldade em falar sobre o assunto com os profissionais mais diretamente envolvidos no cuidado, como é o caso dos médicos infectologista e ginecologista, também influenciaram os processos de vulnerabilização.As mulheres não negras apresentaram-se mais atentas em avaliar as situações inadequadas ocorridas no serviço de saúde. Conclusões. Ao incorporar a raça como categoria analítica foi possível compreender melhor a multidimensionalidade, a instabilidade e a assimetria da vulnerabilidade. As experiências e impressões descritas pelas mulheres estudadas apontam a necessidade de reconhecimento das diferenças e de suas especificidades; de investimento no desenvolvimento institucional, nas políticas e programas de formação profissional continuada, com ênfase na humanização do cuidado, na melhoria da qualidade de comunicação e relação interpessoal e na aquisição de habilidades para o manejo de questões inerentes às relações raciais e de gênero. Do mesmo modo, tais experiências ressaltaram a necessidade de ampliação do repertório de direitos que as mulheres dominam para que elas próprias cooperem na redução ou superação de suas vulnerabilidades.
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- Data da defesa: 25.06.2003
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ABNT
LOPES, Fernanda. Mulheres negras e não negras vivendo com HIV/AIDS no estado de São Paulo: um estudo sobre suas vulnerabilidadades. 2003. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. Disponível em: https://doi.org/10.11606/T.6.2003.tde-10102006-144443. Acesso em: 10 out. 2024. -
APA
Lopes, F. (2003). Mulheres negras e não negras vivendo com HIV/AIDS no estado de São Paulo: um estudo sobre suas vulnerabilidadades (Tese (Doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo. Recuperado de https://doi.org/10.11606/T.6.2003.tde-10102006-144443 -
NLM
Lopes F. Mulheres negras e não negras vivendo com HIV/AIDS no estado de São Paulo: um estudo sobre suas vulnerabilidadades [Internet]. 2003 ;[citado 2024 out. 10 ] Available from: https://doi.org/10.11606/T.6.2003.tde-10102006-144443 -
Vancouver
Lopes F. Mulheres negras e não negras vivendo com HIV/AIDS no estado de São Paulo: um estudo sobre suas vulnerabilidadades [Internet]. 2003 ;[citado 2024 out. 10 ] Available from: https://doi.org/10.11606/T.6.2003.tde-10102006-144443
Informações sobre o DOI: 10.11606/T.6.2003.tde-10102006-144443 (Fonte: oaDOI API)
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