Exportar registro bibliográfico

A teoria da harmonia em Platão: um estudo sobre a identidade da música ocidental (2003)

  • Authors:
  • Autor USP: RIZEK, RICARDO - ECA
  • Unidade: ECA
  • Sigla do Departamento: CMU
  • Subjects: MÚSICA; PLATONISMO; HARMONIA (TEORIA)
  • Language: Português
  • Abstract: Platão foi herdeiro, transfigurador e um dos primeiros sistematizadores da mais antiga doutrina musical do Ocidente: a dos pitagóricos, cujo líder, em todas as lendárias biografias, é considerado como uma janela de tradições matemático-harmônicas antecedentes. Ao lado do pensamento de Parmênides, cuja epistemologia já proclamava a necessidade de um conhecimento que ultrapassasse a multiplicidade das sensações e das opiniões; ao lado do pensamento de Heráclito, que se concentrava em meditar na incessante transmutação temporal do ser; o pitagorismo - dedicado a equacionar (por sistematizantes analogias matemáticas e musicais) as "harmonias" entre a unidade do ser e a multiplicidade do cosmos - é um dos mais importantes enraizamentos pré-filosóficos do pensamento que seria denominado filosofia, a forma de pensamento que Platão inaugurava. A filosofia platônica emergia em contraposição ao pensamento pré-socrático e ao sofístico. Ao primeiro, ela se contrapôs com a formalização do pensamento lógico; ao segundo, com uma forma discursiva, o discurso filosófico, que, por ultrapassar o mero domínio técnico da linguagem, se cria capaz de transmitir verdades. Sua proposta mais nuclear era equacionar e, por um salto de excelência, solucionar a oposição aparentemente inconciliável do um e do múltiplo - uma questão para a qual a tradição pitagórica, que Platão herdava, propunha "figurações" musicais, isto é, alegorias matemático-harmônicas. A solução empreendida por Platão propunha a existência de idéias transcendentes, mas, de alguma forma, passíveis também de relações dinâmicas (e de graus de imanência) com as coisas que delas participam. Isto implicava a concepção da realidade como um "todo", o qual, ao mesmo tempo em que paira acima de suas partes, é, como totalidade, composto pelas próprias partes que ele transcede.Não é difícil perceber as implicações estéticas presentes em tal solução platônica. Prova disso, ) encontramos no fato de elas terem fundamentado uma tradição estética, uma estética platônica, que encontrou na música puramente teórica o campo fértil para a extração de suas preceituações. Entre estas, encontramos nada menos do que a própria definição, na estética platônica, de beleza: a que a declara proporção, e que diagnostica diversificados graus de beleza, graus que "crescem" na medida em que as proporções são mais simples e inteligíveis. Por milênios este preceito universal governou toda a produção artística ocidental. Por milênios acreditou-se no privilégio da arte musical, a única que mantinha elos explícitos com uma ciência, em meio às matemáticas, também denominada "música". Mesmo perante as transformações paradigmáticas da música ocidental, as forças motrizes que compeliram a passagem do "sistema modal" ao "sistema tonal" sempre puderam encontrar fundamentações nas transposições históricas da estética platônica. A própria tonalidade viu-se "platonizada" pelo fisicalismo neopitagórico de Rameau. Só é possível interpretá-la como a identidade-mor da música ocidental, se a concebermos como a culminância da totalidade do projeto histórico-musical do Ocidente. Tratar-se-ia, então, de um projeto que estaria a apontar para sua própria superação, a superação da tonalidade, um passo que encontrou seu ápice na emancipação da dissonância empreendida por Schoenberg. Para Heidegger, o platonismo é a identidade-mor da filosofia; e a totalidade da história desta, uma história de concepções metafísicas sobre o ser, sempre a esquecê-lo ao entificá-lo como questão. Tratar-se-ia, então, de uma história que culminaria no platonismo invertido de Nietzsche, na morte de Deus, o deus entificadopelo pensamento lógico. Por tais interpretações, tonalidade e platonismo entrelaçam-se analogicamente, tornando possível buscar, nas inequívocas dimensões cosmológicas do sistema tonal, enraizamentos na teoria ) harmônica de Platão, exposta no Timeu. Esta teoria embasou uma grande tradição exegética que culminou em Hugo Riemann e Edmond Costere. Tal busca é a busca da identidade da música ocidental; é a busca que tentamos, aqui, empreender
  • Imprenta:
  • Data da defesa: 07.05.2003

  • How to cite
    A citação é gerada automaticamente e pode não estar totalmente de acordo com as normas

    • ABNT

      RIZEK, Ricardo. A teoria da harmonia em Platão: um estudo sobre a identidade da música ocidental. 2003. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. . Acesso em: 04 ago. 2025.
    • APA

      Rizek, R. (2003). A teoria da harmonia em Platão: um estudo sobre a identidade da música ocidental (Dissertação (Mestrado). Universidade de São Paulo, São Paulo.
    • NLM

      Rizek R. A teoria da harmonia em Platão: um estudo sobre a identidade da música ocidental. 2003 ;[citado 2025 ago. 04 ]
    • Vancouver

      Rizek R. A teoria da harmonia em Platão: um estudo sobre a identidade da música ocidental. 2003 ;[citado 2025 ago. 04 ]

    Últimas obras dos mesmos autores vinculados com a USP cadastradas na BDPI:

    Digital Library of Intellectual Production of Universidade de São Paulo     2012 - 2025