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Thomas Mann: o artista mestiço (2001)

  • Authors:
  • Autor USP: ESCUDEIRO, RICHARD MISKOLCI - FFLCH
  • Unidade: FFLCH
  • Sigla do Departamento: FSL
  • Subjects: LITERATURA (ASPECTOS SOCIAIS); LITERATURA ALEMÃ (HISTÓRIA E CRÍTICA)
  • Language: Português
  • Abstract: A dissertação mostra como a figura do artista na obra de Thomas Mann é marcada pela autocompreensão do autor como um mestiço. Na virada do século XIX para o XX, a identidade nacional alemã era baseada na afirmação de pureza racial. A tese apresenta a influência das teorias então correntes sobre a hereditariedade e do movimento intelectual conhecido como Eugenia na visão que Mann tinha de si mesmo e de seus personagens. Buscamos compreender como Mann criou seus protagonistas artísticos lidando com o imaginário da degeneração de sua época. Mann era em parte brasileiro pelo lado materno e afirmava ter herdado seus dotes artísticos de sua mãe. Julia da Silva-Bruhns Mann foi uma mulher bonita e musicalmente dotada. Este fato autobiográfico foi transposto para muitos dos personagens do autor alemão. A mãe de Hanno Buddenbrook, Gerda, é holandesa, a de Tonio Kröger, Consuelo, é latina enquanto a de Aschenbach é originária da Boêmia. Todas elas são descritas como musicalmente dotadas e sensuais. Nosso estudo reconstrói o imaginário da degeneração para compreender a origem brasileira de Mann através dos olhos da sociedade alemã do início do século XX. Mostramos como os protagonistas do escritor são seres "degenerados" por causa de sua condição como artista na sociedade burguesa e, especialmente, mestiços na Alemanha. Artista e mestiço são características inseparáveis nos personagens artistas de Mann. A tese lida basicamente com as obras de Manncentradas em artistas: Buddenbrooks (1901), Tonio Kröger (1903), Morte em Veneza (1913) e Doutor Fausto (1947). Nas três primeiras obras, o artista é apresentado como mestiço. No Doutor Fausto, o protagonista não é um mestiço, mas sua condição degenerada é contraída através do contato com uma prostituta estrangeira. A degeneração de Adrian Leverkühn ) é sexualmente contraída revelando que o que jaz por detrás da temática manniana de impureza racial é a "sexualidade patológica", ou seja, a homossexualidade. O símbolo da arte (e da degeneração) neste romance é Hetaera Esmeralda, uma borboleta descoberta por um pesquisador inglês na Amazônia brasileira em meados do século XIX. A impureza racial e o desvio sexual são associados com as teorias do perigo dos instintos. A sociedade alemã via o "sangue brasileiro" de Mann como "sangue negro", portanto como uma tendência perigosa a um "comportamento primitivo". Mann mesmo incorporou este medo de sofrer as conseqüências de sua hipotética origem degenerada e transferiu para seus protagonistas esta condição de risco. Nosso estudo explica como os artistas-personagens de Mann sucumbem enquanto seu criador cria ter vencido a batalha contra seus "instintos" ao adotar uma prática de si burguesa. Os personagens de Mann não são ele próprio, antes o tipo de artista que ele podia ter sido. O autor alemão escreveu sobre artistas que tomaram decisões estéticas e existenciais que ele considerava erradas. Seus protagonistas sãocondenados por estas decisões com a doença, a loucura e até mesmo a morte. Mann acreditava-se salvo devido à sua decisão de tornar-se o artista burguês. A última parte da tese discute esta decisão, suas ambigüidades e contradições. Mann tornou-se uma das figuras literárias e políticas mais importantes do século XX porque sua condição marginalizada de "mestiço" na Alemanha o levou a rejeitar o anti-semitismo, o Nazismo e toda forma autoritária de rejeição das diferenças. O autor alemão lutou contra o governo nazista e viveu boa parte de sua vida no exílio. Inicialmente na Suíça, depois nos Estados Unidos, onde fixou residência e adotou a cidadania norte-americana. Durante o período de "caça às bruxas" Mann deixou o país e decidiu ) viver o resto de seus dias como um "cidadão do mundo" na Suíça. A vida de Thomas Mann foi marcada pelo exílio em todas as suas formas. Primeiro, como um exilado em sua própria sociedade devido à sua origem brasileira, a qual era compreendida como "degenerada" aos olhos alemães, e também por causa de sua decisão de tornar-se um artista, o que o confrontava com os valores burgueses. Mais tarde, durante o nazismo, Mann tornou-se um exilado no sentido literal do termo. Os protagonistas de Mann, artistas ou não, partilham da mesma condição de exilado de seu criador. Eles se caracterizam por nunca serem completamente ajustados a seu meio e suas vidas são marcadas pela experiência de estar fora do mundo familiar dos nativos, os "normais"
  • Imprenta:
  • Data da defesa: 10.05.2001

  • How to cite
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    • ABNT

      ESCUDEIRO, Richard Miskolci. Thomas Mann: o artista mestiço. 2001. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. . Acesso em: 19 jul. 2024.
    • APA

      Escudeiro, R. M. (2001). Thomas Mann: o artista mestiço (Tese (Doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo.
    • NLM

      Escudeiro RM. Thomas Mann: o artista mestiço. 2001 ;[citado 2024 jul. 19 ]
    • Vancouver

      Escudeiro RM. Thomas Mann: o artista mestiço. 2001 ;[citado 2024 jul. 19 ]

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