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Distribuição, biologia, ecologia populacional e comportamento de peixes subterrâneos, gêneros Ituglanis (Siluriformes: Trichomycteridae) e Eigenmannia (Gymnotiformes: Sternopygidae) da área cárstica de São Domingos, nordeste de Goiás (2003)

  • Autores:
  • Autor USP: BICHUETTE, MARIA ELINA - IB
  • Unidade: IB
  • Sigla do Departamento: BIZ
  • Assuntos: PEIXES DE CAVERNAS; ECOLOGIA AQUÁTICA; PEIXES DE CAVERNAS (EVOLUÇÃO)
  • Idioma: Português
  • Resumo: São apresentados os resultados de um levantamento ictiofaunístico em trechos epígeos e hipógeos de rios da área cárstica de São Domingos, nordeste de Goiás, do estudo morfológico de três espécies de bagres troglóbios, Ituglanis spp. e do peixe-elétrico Eigenmannia vicentespelaea, comparando-se esta última com a espécie epígea ocorrendo na mesma região, E. trilineata, além do estudo da ecologia comportamental e comportamento no ambiente natural e em laboratório de Ituglanis spp. e do peixe-elétrico Eigenmannia vicentespelaea, também comparando-se esta última com a espécie epígea, E. trilineata. Para o levantamento da ictiofauna, realizado entre maio/1999 e agosto/2001, foram utilizados os métodos usuais de coleta (redes de arrasto, malhadeira, peneiras, tarrafa, redes de mão), além de realização de pesca-elétrica. Para o estudo morfológico das espécies de Ituglanis e Eigenmannia, exemplares foram fixados e trazidos para laboratórioatravés de observações diretas, e em laboratório através de experimentos controlados. Para as observações realizadas em campo, foram registrados o tipo de hábitat, a distribuição espacial, o hábito de entocar-se, a reação a estímulos luminosos de luz da lanterna, além de interações agonísticas e formação de grupos em I. passensis da Lapa Passa Três e Ituglanis sp. 1 da Lapa Angélica, através dos métodos de animal-focal e ad libitum. Para Ituglanis sp. 3 da Lapa São Bernardo-Palmeiras, as observações foram eventuais.Em laboratório, as três espécies foram estudadas quanto a reação à luz (câmaras de escolha), comportamento espontâneo (animal-focal), comportamento alimentar (cronometragem de tempos de procura e localização do alimento) e ritmicidade locomotora em livre-curso (escuro constante) medida em aparato de registro de atividade através do cruzamento de fotocélulas. Os resultados foram interpretados de forma comparativa, na tentativa de se detectar diferenças comportamentais relacionadas com o tempo de isolamento maior ou menor no ambiente subterrâneo. Duas espécies de peixes-elétricos da área cárstica de São Domingos, Goiás, Eigenmannia vicentespelaea (troglóbia) e E. trilineata (epígea) foram estudadas quanto aos aspectos ecológicos entre julho/1999 e agosto/2001 (hábitat e densidades populacionais), biológicos (dieta e reprodução) e comportamentais (comportamento espontâneo, reação a estímulos, atividade). Para o estudo ecológico da espécie troglóbia, seis transeções, com áreas variáveis, foram estabelecidas em 700 m do rio subterrâneo da Lapa São Vicente II. Em cada uma das sete viagens a campo, os peixes avistados em cada transecção eram contados, além de realizadas medidas físico-químicas da água. No estudo do comportamento, realizado integralmente no ambiente natural, foi utilizado o método de animal-focal. A espécie cavernícola (teoricamente em condições de livre-curso) foi observada sempre entre 12:00 e 14:00 h e a espécieepígea, E. trilineata, no crepúsculo vespertino e na fase noturna do ciclo diário (17:00 e 20:00 h). Foram realizadas cerca de três horas de observação para cada espécie. Em adição, foi realizado um estudo da atividade de E. trilineata em duas viagens a campo, em uma transecção de 5 x 20 m situada no mesmo local de observação desta espécie, visando obter dados de fase de atividade e densidades populacionais para comparação com E. vicentespelaea. Para tal, era realizado um censo visual a cada hora, durante 10 min. Foram também coletados exemplares das duas espécies para estudo da dieta (análise do conteúdo estomacal) e reprodução (exame das gônadas). Ao todo foram registradas 38 espécies na região de São Domingos, incluindo os trechos epígeos e hipógeos dos rios. Destas, 10 são Characiformes, 19 Siluriformes, sete Gymnotiformes e dois Perciformes. Os peixes mais comuns foram Astyanax spp. e uma nova espécie de Parotocinclus. As espécies não-troglomórficas encontradas regularmente no ambiente subterrâneo foram Hoplerythrinus unitaeniatus (Erythrinidae), Astyanax sp., Brycon sp. (Characidae) e duas espécies de Imparfinis (Heptapteridae), sendo Imparfinis hollandi a mais comum na maioria das cavernas. Em relação à espécies troglomórficas, sete foram registradas na região (Ancistrus cryptophthalmus, quatro espécies de bagres Ituglanis, Pimelodella sp. e Eigenmannia vicentespelaea). Desta maneira, a área cárstica de São Domingos representa a região brasileiracom a maior riqueza de espécies cavernícolas, não apenas em termos de espécies troglóbias, uma vez que 22 espécies não-troglomórficas foram registradas nas cavernas da região. As três espécies novas de Ituglanis distinguem-se entre si e de I. passensis pelo grau de redução dos olhos, padrão de coloração do corpo, número de odontódes operculares e intraoperculares, forma do vomer, palatino e uro-hial, esqueleto caudal, além diferenças nos dados morfométricos e merísticos. Em relação às espécies troglóbias de Ituglanis, as diferenças registradas no grau de pigmentação do corpo e regressão dos olhos podem indicar tempos maiores ou menores de isolamento no meio hipógeo. A ausência de registros de espécies epígeas deste gênero indicam que os Ituglanis troglóbios estão geograficamente isolados no ambiente subterrâneo, aparentemente sujeitos à diferenciação alopátrica. Para E. vicentespelaea, a variabilidade encontrada principalmente em relação aos olhos indicam que esta espécie encontra-se em uma fase inicial de fixação de caracteres relacionados à vida em isolamento no meio hipógeo. O fato de existirem representantes epígeos do mesmo gênero na região sugerem uma diferenciação parapátrica. As quatro espécies estudadas de Ituglanis possuem densidades populacionais baixas, mesmo para padrões de peixes hipógeos. I. passensis, basicamente restrito a uma extensão de 1.600 m no rio da Lapa Passa Três apresentoupopulação pequena (419 indivíduos). Os dados de marcação e recaptura também apontam para tamanho de população pequeno para Ituglanis sp. 1, embora a população de Ituglanis sp. 1 seja provavelmente maior do que o observado, uma vez que essa espécie, assim como Ituglanis sp. 2 e Ituglanis sp. 3, está distribuída em uma área maior, no epicarste. As densidades populacionais das quatro espécies troglóbias de Ituglanis de São Domingos podem ser consideradas baixas para padrões de peixes hipógeos. Os deslocamentos verificados para I. passensis e Ituglanis sp. 1 são pequenos, comparando-se com espécies epígeas de bagres tricomicterídeos. Foi verificado um padrão de recrutamento e uma tendência de queda no peso e e fator de condição para Ituglanis sp. 1, e não para I. passensis, ao longo da estação seca. I. passensis e Ituglanis sp. 1 são carnívoros generalistas, a exemplo do observado para outros bagres tricomicterídeos. Há um aparente período reprodutivo para I. passensis no final da estação seca, e um prolongamento da reprodução para Ituglanis sp. 1. As respostas negativas à luz, os hábitos criptobióticos pronunciados, a atividade principalmente bentônica e a menor eficiência na detecção e captura do alimento, podem indicar que I. passensis seja a espécie a menos tempo isolada no ambiente subterrâneo. Ituglanis sp. 1 exibiu reação negativa à luz, hábitos criptobióticos menos pronunciados, utilização espacial estendida e maior eficiência alimentarcomparando-se com I. passensis, o que sugere um tempo maior de isolamento no ambiente subterrâneo em relação a esta última espécie. Finalmente, a indiferença à luz, os hábitos criptobióticos menos pronunciados, a utilização espacial estendida, a maior eficiência alimentar e a ausência de componentes de ritmicidade circadiana em Ituglanis sp. 3, podem indicar que esta espécie esteja a mais tempo isolada no ambiente subterrâneo dentre as três abordadas aqui. Entretanto, para testar estas hipóteses, far-se-ia necessário mapear esses estados de caracteres comportamentais em uma filogenia, ainda não disponível para Ituglanis. Os resultados mostraram que as espécies epígea e troglóbia de Eigenmannia ocorrem em hábitats com características físicas semelhantes, ou seja, trechos de remanso com blocos abatidos de rocha. As densidades populacionais de E. vicentespelaea foram baixas (entre 0,04 e 0,172 ind.m-2) e maiores do que aquelas registradas para a espécie epígea (entre 0,01 e 0,13 ind.m-2). Aparentemente, existe uma ampliação na utilização espacial do ambiente aquático na espécie troglóbia comparando-se com a epígea. O ângulo de forrageamento, entre o eixo do corpo e o substrato, menor (300) em E. vicentespelaea comparando-se com aquele verificado para E. trilineata (900), pode estar relacionado com a extensão da concentração dos botões gustativos para a região do queixo e não apenas nos lábios, como ocorre com espéciesepígeas de Eigenmannia. A extensão do período de atividade de E. vicentespelaea, em contraste com a atividade bimodal observada em E. trilineata (dois picos, um no pôr-do-sol e outro cerca de 4 h após este), está relacionada com o fato da espécie troglóbia não estar submetida a ciclos de claro-escuro, que aparentemente determinam os períodos de atividade nestes peixes. Ambas possuem dieta basicamente insetívora bentófaga, a exemplo do observado para outras espécies de Eigenmannia. As espécies troglóbia e epígea de Eigenmannia reproduzem-se ao longo da estação seca, sem indicação de picos reprodutivos definidos próximos da estação chuvosa, estes observados para outras espécies de Eigenmannia
  • Imprenta:
  • Data da defesa: 28.07.2003

  • Como citar
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    • ABNT

      BICHUETTE, Maria Elina. Distribuição, biologia, ecologia populacional e comportamento de peixes subterrâneos, gêneros Ituglanis (Siluriformes: Trichomycteridae) e Eigenmannia (Gymnotiformes. 2003. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. . Acesso em: 24 abr. 2024.
    • APA

      Bichuette, M. E. (2003). Distribuição, biologia, ecologia populacional e comportamento de peixes subterrâneos, gêneros Ituglanis (Siluriformes: Trichomycteridae) e Eigenmannia (Gymnotiformes: Sternopygidae) da área cárstica de São Domingos, nordeste de Goiás (Tese (Doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo.
    • NLM

      Bichuette ME. Distribuição, biologia, ecologia populacional e comportamento de peixes subterrâneos, gêneros Ituglanis (Siluriformes: Trichomycteridae) e Eigenmannia (Gymnotiformes: Sternopygidae) da área cárstica de São Domingos, nordeste de Goiás. 2003 ;[citado 2024 abr. 24 ]
    • Vancouver

      Bichuette ME. Distribuição, biologia, ecologia populacional e comportamento de peixes subterrâneos, gêneros Ituglanis (Siluriformes: Trichomycteridae) e Eigenmannia (Gymnotiformes: Sternopygidae) da área cárstica de São Domingos, nordeste de Goiás. 2003 ;[citado 2024 abr. 24 ]


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